domingo, 25 de dezembro de 2011

Carta.

Volto-me, perante a carta
pena fina e tinta fresca
negra, radiante
rabiscando acima dos sonhos
sublevante e ostensivo
sofregando de saudade:
saudades do teu sorriso - que o meu embala!
sincero,
singelo que dissipa
escuridão, gotas de dor
a fúria, o calor voraz
a vista daqui, sei
reservei; fiz mutirão
dancei à luz branda
conquistei cada afago do ar ao seu redor
pra saber, pra graduar
mensurando como quem trama
à fina grama do nosso (futuro) jardim reclama
pela ausência - seguida do brado
pela lacuna que tens me deixado
pelo marasmo de ser só, assim.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Caos.

sacrifício,
sacrilégio.
grito em vão ao limbo
à beira mar, à beira vida
chama - voraz - me espanca
manda trazer o vento,
que te trago a esperança.
nos olhos, o horizonte
a me levar na embarcação,
me jogar na imensidão
a refletir sobre a água rasa,
o quão caótico és.

mas, a saber
me faz bem, o caos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sobre torpedos eletrônicos.

"tá longe de ser projetada pelos melhores engenheiros - de todos os tempos - arma com poder destrutivo maior do que o de uma simples SMS."

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pra você.

(publicação especial, do meu amigo pessoal Alan Bonner. vale a pena conferir.)
 
 
Esse é pra você
maldito seja
você que inventou essa coisa
essa amargura
essa dor
essa desvontade de viver
essa vontade de deixar de viver em si e viver no outro

vontade de voltar a lugares
de rever gente
de fazer coisas
coisas que já deveriam ser esquecidas
mas não
isso não te deixa
não sai de você

e quando mais você pensa
mais você quer
mais você sofre
mas não pode

está longe
(mas está perto)
está desaparecido
(mas sempre esteve contigo)
está morto
(mas é vivo em você)

você que pensou em amor
te apresento meu pesar
ele se chama saudade
que meu peito prendeu
e parece que nunca mais vai soltar

pra você, que inventou a saudade só pra escrever coisas bonitas
e ganhar corações
e ganhar dinheiro
ou aliviar essa mágoa

meus parabéns
sou mais um soldado do seu exército

bora marchar rumo ao remorso
porque só ele nos abraça nessa hora
onde o filho chora e a mãe não vê

só ele nos diz pra sofrer calado
saudade é pra quem tem
não pra quem quer ter.

sábado, 6 de agosto de 2011

Desalinho, matinal.

Eu digo, seu moço
Traz o café
Pra me despertar a alma
Saliente, palpitante
Esta noite fui ao céu
Te contar, que estive lá

Aquele sorriso me remete
Se intromete, intercepta meu querer
Voraz, do alto contemplo
A figura da perfeição, meio disforme
De fazer chorar, de tirar o ar
De querer amar
De parar o mar
Decolei, como nos filmes
Como em pileque
Como o moleque da pipa,
do cerol
E pude sentir o afago das estrelas
O aconchego dos invernos
A paz do beira-mar

A tristeza me esqueceu
Primavera me aqueceu
Buliço de prazeres
Revés ideológica
Ando confusamente feliz
Sonhando ao meio dia

Deixa o café, moço
Já preciso ir
Tentar descobrir o meu
Combinado ao dela
Te contar, que volto lá
Mas só depois do carnaval

domingo, 24 de abril de 2011

Revoar.

voar,
à esmo,
liberta
dançar sobre a fina areia coberta
de sal
de saudade
plantar aqui
o que há de ser
posso até tocar a paz
que, já não mais abstrata
nos abraça
embaraça os teus fios sem ter
medo do poder
e ser, só ser
livre como a brisa
andorinha
sobre o céu
como pintura
uma tela
tinta rara, fina
no retrato, resina
o eterno voar,
à esmo

que liberta.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Entabular

Engano teu
achar que não fazes falta
que a fé na tua volta
insuporta meu querer
ao lado meu
sobrepujavas o "será"
como fio virgem, ah
se rendeu ao sincero "fica aqui"

a ataviar
como se amar
não trouxesse dano
e, se não me engano
já não sou mais disto
já não sou mais meu

e, agora
a certeza da loucura
o olhar que se mistura
despido
cru e atrevido
como a realidade
ah, que fugaz
só canto mais
pois já não sou mais meu


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Refresh.

Lourenço era um pobre desgraçado
sonhador - afoito, visionário
jogava na sena toda miséria
toda iminência
sempre quis ser milionário
era seu maior querer
seu amanhã
seu destino
andava tranquilo pelas ruas
apesar de tudo, era feliz
era feliz
tinha feridas, tinha calor
tinha dor nas costas
e torcia, erguia preces
um dia ganhou, caiu do céu
número sorteado, o jogo de sempre
de mandingas, macumbas
ficou rico, o desgraçado
chutou o barraco
tinha o ouro, tudo que sempre quis
festejou, comprou sua própria galáxia
se mudou, mudou
perdeu feridas, dores
algumas
ganhou outras
brigou com o tempo
perdeu a guerra
ficou pobre, desesperado
desolado, o desgraçado
ficou triste, por um tempo
dois tempos, três
agora só, sem lantejoulas, sem a galáxia
voltou pra rua, a andar livre
voltou a sorrir, era feliz
apesar de pobre
não era pobre, na verdade
era um sonhador, um visionário
e voltou a viver, a andar livre
a ter dores, feridas - perdeu algumas
ganhou uma vida, perdeu outra
o desgraçado.